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O Café no Brasil

francisco palheta

Em 1727, os portugueses compreenderam que a terra do Brasil tinha todas as possibilidades que convinham à cafeicultura. Mas, infelizmente, eles não possuíam nem plantas, nem grãos. O governador do Pará, João de Maria Gama, encontrou um pretexto para enviar Francisco de Mello Palheta, um jovem oficial, à Guiana Francesa, com uma missão simples: pedir ao governador, M. d’Orvilliers, algumas mudas.


M. d’Orvilliers, seguindo ordens expressas do rei da França, não atendeu ao pedido de Palheta. No entanto, Mme. d’Orvilliers, esposa do governador da Guiana Francesa, não resistiu por muito tempo aos atrativos do jovem tenente. Quando Palheta já regressava ao Brasil, Mme. d’Orvilliers enviou-lhe um ramo de flores onde, dissimuladas pela folhagem, se encontravam escondidas as sementes a partir das quais haveria de crescer o poderoso império brasileiro do café: um episódio bem apropriado para a história deste grão tão sedutor.

Em seguida, o café foi plantado no Maranhão e daí se irradiou, em pequenas plantações, nos estados vizinhos, tendo atingido no período de 1743-50 o Ceará, Pernambuco e Bahia. 

O introdutor do café no Rio de Janeiro, então capital do Brasil colonial, foi o desembargador João Alberto Castelo Branco, por volta de 1760. Fez vir do Maranhão mudas de café que entregou aos frades capuchinhos e esses as plantaram e trataram em sua horta. Da plantação dos frades capuchinhos saíram as sementes para novas culturas nos arredores da cidade e, depois, para todo o estado e então para todo sudeste.

fazenda cafeNas sesmarias de Vassouras, concedidas à Francisco Rodrigues Alves e seu sócio Luís Homem de Azevedo, surgiria a primeira capital brasileira do café, nas primeiras décadas do século XIX, segundo documentos do grande latifúndio. Começou ali o plantio de café em 1792, tomando logo grande impulso, sobretudo a partir de 1816, com a chegada de Custódio Ferreira Leite, depois Barão de Auiruoca, um dos mais notórios pioneiros da lavoura do café nas terras do Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Em condições favoráveis a cultura, se estabeleceu inicialmente no Vale do Rio Paraíba, iniciando em 1825 um novo ciclo econômico no país. O surto e incremento da produção do café foram favorecidos por uma série de fatores existentes na época da Independência. As culturas do açúcar e do algodão estavam em crise, batidas no mercado internacional pela produção das Antilhas e dos EUA e, por isso, os fazendeiros precisavam encontrar outro produto de fácil colocação no mercado internacional.

Além disso, a decadência da mineração libertou mão-de-obra e recursos financeiros na região Centro-Sul (Minas Gerais e Rio de Janeiro, principalmente) que podiam ser aplicados em atividades mais lucrativas. Em nível internacional, a produção brasileira foi favorecida pelo colapso dos cafezais de Java (devido a uma praga) e do Haiti (devido aos levantes de escravos e à revolução que tornou o país independente). Outros fatores decisivos foram a estabilização do comércio internacional depois das guerras napoleônicas (Tratado de Versalhes, 1815) e a expansão da demanda européia e americana por uma bebida barata.

Aproveitando-se desse quadro, o Brasil aumentou significativamente a sua produção e, embora ainda em pequena escala, passou a exportar o produto com maior regularidade. Os embarques foram realizados pela primeira vez em 1779, com a insignificante quantia de 79 arrobas. Somente em 1806 as exportações atingiram um volume mais significativo, de 80 mil arrobas.

O ponto de partida das grandes plantações foi o Rio de Janeiro que era o porto de escoamento do produto e centro financeiro. Diversas florestas foram desmatadas para o café ser cultivado. Um exemplo disso é o local que hoje abriga a Floresta da Tijuca, que teve sua mata nativa derrubada para a plantação de um grande cafezal. O atual bairro da Tijuca era conhecido na época como "área do café". Posteriormente, por volta do ano de 1860, a planta foi erradicada daquela região. Com uma grande estiagem, em 1844, o ministro Almeida Torres propôs a desapropriação das áreas de plantio com o objetivo de salvar os mananciais da cidade. Dessa forma, foi feito um reflorestamento e, com isso, surgiu a Floresta da Tijuca, que atualmente compõe a paisagem da "cidade maravilhosa". Em seguida, o café estendeu-se para Angra dos Reis, Parati e chegou a São Paulo por Ubatuba.

Em pouco tempo, o vale do rio Paraíba se tornou a grande região produtora da lavoura cafeeira no Brasil. Esta região com altitude e clima excelentes para o cultivo, possibilitou o surgimento de uma área centralizadora de culturas e população. Subindo pelo rio, o café invadiu a parte oriental da província de São Paulo e a região da fronteira de Minas Gerais.

Entretanto, a cultura do café em áreas com declive acentuado e o total descuido quanto à preservação do solo gerou uma erosão intensa. Por este motivo, as terras se esgotaram rapidamente e a cultura cafeeira migrou para um outro local, o oeste da província de São Paulo, centralizando-se em Campinas e estendendo-se até Ribeirão Preto. Campinas passou a ser então o grande pólo produtor do país. As culturas estendiam-se em largas superfícies uniformes, cobrindo a paisagem a perder de vista, formando os famosos "mares de café".

Na região, os cafezais sofriam menos com esgotamento dos solos pela superfície plana da região, que facilitava ainda a comunicação e o transporte e proporcionava uma concentração da riqueza. Enquanto no Vale do Paraíba foi estabelecido um sistema complexo de estradas férreas, nessa nova região foi implantada uma boa rede de estradas rodoviárias e ferroviárias. Com este novo pólo produtor, o café mudou seu centro de escoamento, sendo toda a produção do oeste paulista enviada para São Paulo e depois exportada a partir do porto de Santos.

SACOSFERRPor quase um século, o café foi a grande riqueza brasileira, e as divisas geradas pela economia cafeeira aceleraram o desenvolvimento do Brasil e o inseriram nas relações internacionais de comércio. O café trouxe grandes contingentes de imigrantes, consolidou a expansão da classe média, a diversificação de investimentos e até mesmo intensificou movimentos culturais. A partir de então, o café e o povo brasileiro passaram a ser indissociáveis.

A riqueza fluía pelos cafezais, evidenciada nas elegantes mansões dos fazendeiros, que traziam a cultura européia aos teatros erguidos nas novas cidades do interior paulista. Durante dez décadas o Brasil cresceu, movido pelo hábito do cafezinho, servido nas refeições de meio mundo, interiorizando nossa cultura, construindo fábricas, promovendo a miscigenação racial, dominando partidos políticos, derrubando a monarquia e abolindo a escravidão.

Além de ter sido fonte de muitas das nossas riquezas, o café permitiu alguns feitos extraordinários. Durante muito tempo, o café brasileiro mais conhecido em todo o mundo era o tipo Santos. A maioria das pessoas acredita ser a cidade de Santos, porto exportador de café, a origem do nome. Na realidade, a marca Santos deriva de Alberto Santos Dumont, que além de ter sido um pioneiro da aviação, foi também "o rei do café".

Implantado com o mínimo de conhecimento da cultura, em regiões que mais tarde se tornaram inadequadas para seu cultivo, a cafeicultura no centro-sul do Brasil começou a ter problemas em 1870, quando uma grande geada atingiu as plantações do oeste paulista provocando prejuízos incalculáveis.

Depois de uma longa crise, a cafeicultura nacional se reorganizou e os produtores, industriais e exportadores voltaram a alimentar esperanças de um futuro melhor. A busca pela região ideal para a cultura do café se estendeu por todo o país, se firmando hoje em regiões dos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Espírito Santo, Bahia e Rondônia.

O café continua, hoje, a ser um dos produtos mais importantes para o Brasil e é, sem dúvida, o mais brasileiro de todos. Atualmente, o país é o primeiro produtor e o segundo consumidor mundial do produto